segunda-feira, 7 de abril de 2014

Acessibilidade e inclusão dos idosos


Viver muito significa ser, gradativamente, pessoa solitária, isolada, prisioneira de preconceitos e restrições de segurança, saúde, sensoriais, intelectuais, físicas, mas, acima de tudo, vítima da estupidez humana, algo surpreendentemente generalizado e até colocado como algo desejável pela mídia, filmes, livros etc.
As super-raças não toleram os mais fracos.
Percebemos a galhofa até entre pessoas que deveriam ser mais sensíveis ao pesadelo de viver com restrições.
Algo constrangedor ao participar de reuniões, seminários, congressos etc. é sentir a falta de atenção para as pessoas mais velhas. A sensação é a de que não existem e todos, até por justa causa, centram metas, propostas e planos em cima de questões pessoais e familiares.
A miopia e o egoísmo de lideranças importantes acabam sendo prejudiciais às suas causas.
Nossa sociedade precisa mudar, evoluir, transformar-se e isso só será conquistado se nos unirmos de forma objetiva, racional e persistente.
As bandeiras a favor das pessoas com deficiência têm uma vantagem que precisa ser explorada e ampliada, principalmente pelas próprias pessoas com deficiência, a universalização da necessidade de mobilidade, comunicação, trabalho, dignidade para todos em qualquer idade e situação pessoal.
Com relação ao envelhecimento é desnecessário dizer o que acontece, é visível, perceptível por aqueles que se preocupam ou estão nessa condição.
A nossa sociedade consegue viver mais. Isso é importantíssimo. Pensando no que acontecia com nossos pais e outros mais velhos vamos entender que eles, vivendo pouco e mal num mundo tremendamente restritivo, pouco se preocupavam com a terceira idade, por exemplo.
Meu pai dizia que após os quarenta anos estaríamos devendo ao cemitério...
Grandes personagens da história da Humanidade muito cedo atingiram o clímax de suas carreiras, e não fosse isso simplesmente teriam desaparecido sem deixar vestígios. Era uma corrida contra o tempo, sem falar no cenário extremamente pobre de informações, cultura técnica, social, política etc.
Ou seja, estamos numa época em que as pessoas prolongam suas capacidades e têm tempo para criar novas formas de participação, trabalho, lazer, cultura e tudo o que qualquer sociedade inteligente é capaz de produzir.
Vive-se mais, sim, mas a Natureza é implacável. Ainda não conseguimos dominar integralmente o reloginho da vida que aos poucos vai desligando nossos servomecanismos, CPUs, sistemas de transmissão de dados, desativando o sistema operacional, apagando programas e arquivos, inibindo o transporte de combustíveis, lesionando ao aproveitamento de alimentos etc.
O corpo humano é fantástico, mas se fragiliza com a idade, precisa morrer.
Desafiamos a Natureza e perdemos entre nós.
A sociedade moderna, principalmente em países subdesenvolvidos eticamente, é feita para atletas ou pessoas perfeitamente caracterizadas e capazes de protegerem seus direitos. Os idosos, até porque mal percebem que amanhecem sempre piores, não reagem. É igual a matar um sapo em água que esquenta devagar, ele vai morrer sem reagir.
Os direitos e as necessidades das PcD ganham leis, decretos etc., até o rigor semântico gasta tempos caros e preciosos em inúmeros eventos muitas vezes pagos pelos contribuintes.
O que todos podem e devem compreender é que a reurbanização a favor da inclusão dos idosos e das idosas significará o aprimoramento de tudo para todos os tipos de limitações em qualquer idade.
É de irritar, isso é fácil quando começamos a ficar ranzinzas, ver e ouvir ênfases egoístas, primárias. A visão holística a favor da sociedade humana é essencial, sem preconceitos ou paradigmas antigos e superados.
Lembrando sempre que todos que estão vivos poderão chegar à terceira idade, exceto se portadores de doenças letais, ainda assim passíveis de cura amanhã, é importante e prudente valorizar a dignidade, a inclusão e o respeito aos idosos e às idosas...

Cascaes
19.3.2014




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